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impressionismo à vista


é astigmatismo - dois e tanto em um olho, um e setenta e pouco no outro.

nem de perto, nem de longe, de tudo.

um pouco de miopia também. aí sim é de longe.

e começando presbiopia. aí sim é de perto.

claro, pode provar meu óculos

(preferia não).

pois é, é forte mesmo.


essas respostas eu dou com frequência,

essas interações as pessoas promovem com insistência.


deixo levar porque, no fundo, o ser humano tem essa curiosidade

pelo ponto de vista dos outros. querem saber como veem o mundo.


só que a gente nunca vai saber.


tentando explicar o meu caso, é mais ou menos assim:

eu, sem óculos, vejo tudo fora de foco.

o astigmatismo deixa o mundo meio borrado,

é como um grande quadro de monet.


taí, quer saber como enxergo?

dá um google em mulher com sombrinha,

lírios de água, waterloo bridge, etc e vai entender.


não vai.


nem vendo como monet enxergo o mundo como monet.

na verdade,

eu vejo o mundo como eu vejo um quadro de monet,

aí sim.


nunca vou saber como ele via, nem mesmo se colocasse seu óculos.

porque cada um tem um olhar próprio, impossível reproduzir.

por mais que estejamos com a mesma luz do sol batendo,

lado a lado, mesmo ângulo, até no colo,

as impressões são individuais.


aliás, não enxergo nem como a mim mesma.

viro para o lado e, quando volto, o mundo já é outro.

a cada instante. num piscar. é novo.


às vezes gosto de tirar o óculos para ficar surda dos olhos.

a ideia de não ver em detalhes me fascina. me faz sentir algo diferente.

me faz sentir.

sentir além do que os olhos podem ver.

as coisas perdem a forma e aí podem ser tudo.

o que quiserem, o que eu quiser.

é como olhar o céu e as nuvens,

que têm um formato a cada segundo e a cada olhar.

que andam e, no que andaram, já são outra coisa.

sem forma fixa,

uns veem um desenho, outros veem diferente,

tem quem nem veja nada.

o mundo sem definição,

é assim que vejo.


porque, afinal de contas, é assim que é.

nada é definido. tudo muda a cada instante.

por isso, a ideia é sentir as coisas como somos

e não enxergar as coisas como são.

porque pode ser que não seja nada daquilo que vemos.


impressionismo. grau alto de impressionismo nos dois olhos

e na vida.

é o que tenho.


para mim, uma paisagem não existe por si só,

pois sua aparência muda a qualquer momento.

quem disse isso foi monet, mas vejo como ele.





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